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MAPEAMENTO CULTURAL DO MUNICÍPIO DO CRATO

 

MARIA DE LOURDES CARVALHO NETA ¹

GLAUCO VIEIRA FERNANDES ²

LUCIANA MELO DE MEDEIROS ROLIM CAMPOS ³

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O mapeamento realizado pela Secult Crato e o LABGEO/URCA propõe contribuir para a valorização de um pensar crítico sobre o papel da Cultura como elemento estruturante da gestão pública democrática, compartilhada e participativa. Além disso, ao abordar a identidade cultural como aspecto central para a construção da consciência social, política e econômica, espera-se estimular ações em prol do desenvolvimento regional sustentável.

 

O território do Crato, com 1.176,467 km² de área, abrange a sede municipal e nove distritos: Baixio das Palmeiras, Belmonte, Campo Alegre, Dom Quintino, Monte Alverne, Bela Vista, Ponta da Serra, Santa Fé e Santa Rosa. Cerca de 121.428 moradores residem em 25 bairros, sendo 57.616 homens e 63.812 mulheres. O índice de Desenvolvimento Humano (IDHm) anunciado pelo IBGE em 2013 é de 0,713, considerado o terceiro melhor dos 184 municípios cearenses, atrás apenas de Fortaleza (0,754) e Sobral (0,714).

 

A efetivação desta Cartografia partiu da análise dos dados disponíveis no Sistema de Informações Culturais do município, que após tratamento e complementações, foram classificados em três grandes eixos, (I) Patrimônio Natural e Práticas Culturais Sustentáveis, (II) Patrimônio Cultural, (III) Equipamentos e Linguagens Artísticas, por sua vez, divididos em 14 categorias e 11 segmentos mencionados na introdução desta obra. Destaca-se para o êxito do mapeamento, a iniciativa da Secult em organizar um inventário e cadastrar os artistas locais.

 

A sistematização dos 382 verbetes que compõem a Cartografia Cultural do Crato foi precedida por levantamento bibliográfico acerca de investigação cartográfica, antropologia cultural, permacultura, educação popular e contextualizada para o semi-árido. A coleta de dados completou-se com uma duradoura etapa de pesquisa de campo, para reconhecimento de experiências, atores, saberes, grupos, entidades e instituições envolvidas com as dinâmicas socioculturais do território.

 

A produção da Cartografia evocou a noção de identidade cultural como elemento transversal ou conceito-chave para interligar os distintos aspectos das expressões da cultura no espaço/tempo, com a compreensão que à identidade associa-se a ideia de rede. A dinâmica da cultura foi apreciada como fruto do encontro de pontos reticulares dialógicos: tradição/modernidade, sagrado/profano, identidade/diferença, público/privado, representação/experiência, consenso/dissenso, entre outros nós que dinamizam ou renovam a teia cultural que sujeitos sociais endógenos e exógenos constroem por meio da imbricação, da sobreposição, justaposição e das trocas entre as bagagens dos que chegam e daqueles que vivenciam de dentro a sua própria experiência cultural.

 

Observa-se que o Crato abriga unidades de conservação ambiental que contam com expressivo contingente de populações tradicionais vivendo nelas. A Chapada do Araripe figura como um lugar de intensas práticas socioculturais como a “cata” do pequi. As atividades mantidas pelos povos da Flona produziram um vasto cabedal de conhecimentos a serem protegidos e disseminados. Assim, com a Cartografia, ao lado das dimensões da Arte e da Cultura, procurou-se associar a Natureza, para identificar bens naturais, pessoas, grupos e associações que atuam como indutores de uma cultura para a sustentabilidade ecológica.

 

CARTOGRAFANDO A CULTURA DO CRATO: POR QUÊ, PARA QUE E PARA QUEM?

 

É importante apresentar as inquietações que guiaram o projeto. Ao buscar responder as perguntas “cartografar para quê?” e “para quem cartografar?”, formulou-se um entendimento sobre “porque cartografar a cultura”. Quando se fala em cartografar, é preciso ir além do que apresentam os dicionários, que apontam, por exemplo, “levantar, delinear, reproduzir cartas geográficas” e a Cartografia como a “ciência e/ou arte relacionados à elaboração de representações cartográficas da Terra”.

 

O mapa é uma representação da superfície terrestre, nele, pode constar uma série de informações, elegidas por interesses ou necessidades das mais diversas ordens, tais como política, econômica, científica, educacional, entre outros. A cartografia contemporânea, além de mapas cada vez mais confiáveis, por conta das novas tecnologias, tem representado fatos até pouco tempo improváveis. Atualmente se cartografa para representar lugares e fatos... para orientar e localizar o indivíduo no espaço... para o registro da memória... para dar visibilidade!

 

Da mesma forma que se pode cartografar diferentes temas e/ou fenômenos, deve se ter claro para quem uma cartografia se destina. No Brasil, até bem pouco tempo, a função de elaborar mapas era restrita ao Estado, no entanto, com a popularização de tecnologias e metodologias, a cartografia vem sendo realizada por diferentes segmentos da sociedade. Além de mapeamentos políticos, de rios e florestas, se propõe cartografar a violência, as comunidades tradicionais, a poluição, a espacializar doenças... Mapeiam-se os afetos e os sentimentos! Nesse contexto, concretiza-se a ideia de mapear as manifestações culturais.

 

Muito se fala em ações de proteção e incentivos, o pedido de “não deixar as manifestações esquecidas, não deixar a cultura se acabar” é recorrente em reuniões com representantes dos diversos segmentos artísticos, porém, como proteger, sem conhecer os atores/fatos/formas de expressão? Para entender o que acontece nesse território que o faz uma “Capital da Cultura”, é mister tomar consciência das ações, gentes, espaços e como as atividades ocorrem. E ao dar visibilidade à Cultura que é característica em cada canto do Crato, fertiliza-se o campo social para validação dos direitos e o desejado fortalecimento da Democracia.

 

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1 . Professora do Departamento de Geociências, vinculada ao Curso de Geografia da URCA.

2. Professor adjunto de Geografia da URCA e coordenador do grupo Imago.

3. Estudante de Administração Pública da UFCA e assessora da Secult Crato (2013 -2016).

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